ENSINO MÉDIO EM FINS-DE-SEMANA
Izabel Sadalla Grispino *
O ensino médio passa por um processo alternativo. Agora, o aluno desse ensino poderá cursá-lo em fins-de-semana,
Para participar, o aluno deve ter concluído o ensino fundamental e efetuar matrícula diretamente nas escolas participantes do projeto. Inicialmente, a Escola da Juventude atenderá 300 escolas estaduais da capital e alguns municípios da grande São Paulo e do interior do Estado, num total de 30 mil vagas, sendo 100 por unidade.
O curso de ensino médio da Escola da Juventude está dividido em três tipos de atividades: curriculares presenciais, organizados em 4 módulos, sendo um optativo no sábado pela manhã e um obrigatório à tarde. No domingo, a situação inverte-se. Haverá no mínimo uma hora e meia por final de semana de atividades de inclusão digital, e atividades individuais durante a semana, sugeridas em classe e constantes dos materiais impressos.
Na sala de aula, o aluno contará com um orientador de estudos e na sala ambiente de informática, com um monitor para auxiliá-lo a tirar suas dúvidas. O curso desenvolver-se-á em módulos e o aluno terá flexibilidade para freqüentá-lo segundo sua disponibilidade de tempo. A avaliação será contínua, havendo provas freqüentes e, ao final do semestre, exame para a conclusão do módulo. A certificação será dada após a aprovação em todos os módulos, depois de 18 meses de atividades.
A programação parece bem pensada, bem organizada, agora é torcer para que esse curso abreviado de ensino médio, dado em fins-de-semana, não venha frustrar quanto à qualidade, fazendo o ensino decair ainda mais. As escolas devem passar avante a informação, deixando os alunos a par dessa recente inovação.
Um ensino médio com carga horária assim reduzida é prato de balança que oscila entre duas perspectivas. Permite ao aluno avançar em anos de escolaridade, ultrapassando os graus de ensino, engrossando as estatísticas, mas pode pôr em cheque a meta qualitativa. O ensino médio de um ano e meio favorece, é verdade, o aluno continuar na escola, afastando-o da rua, da ociosidade. Ajuda-o a não interromper o processo de estudo e a se afastar da violência.
Segundo a Unicef, o aumento da violência é proporcional à queda da escolaridade do adolescente, considerando que a sua cidadania depende da conciliação da educação formal com cursos profissionalizantes. Aponta que apenas 33% de jovens brasileiros, com idade entre 15 e 17 anos, freqüentam o ensino médio. Dentre as crianças que trabalham, a taxa de analfabetismo é de 20,1%, contra 7,6% entre as que não trabalham. Conclui que o problema da violência requer ação efetiva de toda sociedade e que sua solução passa necessariamente pela melhoria da escolaridade e profissionalização dos jovens, dentre outras medidas coerentes com aplicações socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Estatísticas comprovam que no Brasil o número de adolescentes que morrem violentamente supera o número de mortes nos países em guerra, como no Iraque, onde se calcula que 150 mil civis morreram na invasão movida pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Entre nós, mais de 24 mil jovens de
Cerca de 68% das mortes de adolescentes no Brasil, com idade entre 15 e 19 anos, são provocadas por causas externas, como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. Perto de 10% de todos os crimes e delitos praticados no País são cometidos por adolescentes, o que causa séria preocupação.
A juventude está morrendo e está matando, e há fortes convicções de que esse quadro se modificaria se mais jovens estivessem na escola. Sob esse prisma, o ensino médio em fins-de-semana, conjugando estudo e trabalho, poderá ajudar, se conduzido por professores habilitados e interessados no processo, porque o mercado de trabalho considera prioritariamente a qualidade e não a quantidade de anos passados pelo aluno na escola.
Exigências do mercado levam as empresas de pequeno e médio porte a contratar pessoal qualificado na mira da adoção do selo de boas práticas trabalhistas, acompanhando as grandes empresas. Atuar com qualidade favorece o diferencial competitivo da empresa como foco na responsabilidade social. As pequenas empresas são as que têm até 99 empregados, no caso da indústria, e até 49, no caso de comércio e serviços. As de médio porte têm até 499 trabalhadores na indústria e 99 no comércio e serviços. O selo SA 8000 se tornou um termômetro da importância que as práticas internas empresariais têm em uma economia competitiva. Sua importância é tal que será como avalista para o futuro. Vai excluir empresas do mercado. O selo SA 8000 cria um ambiente ético que vai além da empresa e chega à sociedade, vai além das exigências trabalhistas, dando condições dignas de trabalho a seus empregados.
A SA 8000 é um conjunto de padrões que asseguram melhorias nas condições de trabalho nas empresas, com base nos preceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para obter a certificação, que tem a validade de 3 anos, a empresa deve estar em dia com a legislação trabalhista, banir os trabalhos escravo e infantil e assegurar o direito à associação sindical e salários justos.
Para fazer parte de uma empresa bem organizada, de porte e sucesso, para receber os benefícios da SA 8000, o pretendente deve ter freqüentado uma escola de qualidade, adquirido uma boa formação acadêmica e profissional. Caso contrário, não passará nos testes de avaliação.
Um ensino médio de bom nível é porta aberta para uma boa colocação no mercado de trabalho. Os relatos acima são questões para se pensar.
* Supervisora de ensino aposentada.
(Publicado em maio/2005)